Heroes

11:17

Nos últimos quatro anos, foram 28 viagens à Síria. Ele distribui brinquedos entre meninos e meninas de Aleppo, no norte do país. Em troca, recebe sorrisos muitas vezes tímidos, mas recompensadores.
Mas a iniciativa requer uma grande operação logística - ele cruza a fronteira entre a Turquia e a Síria carregando malas com até 70 kg de brinquedos. O trajeto é feito a pé e às vezes demora 16 horas.
...
Por causa de seu trabalho, Rami ficou conhecido como o "contrabandista de brinquedos de Aleppo".
"O sorriso que elas (crianças) te dão, a gratidão... você as ajuda a esquecer que elas perderam suas casas, suas escolas, seus brinquedos"."
  
Este é o testemunho de um homem que tenta fazer a diferença à sua maneira (bastante) particular e que me deixou tão enternecida que tinha de comentar.
O conflito da Síria parece não ter um fim à vista (ja escrevi anteriormente sobre ele, podem visitar aqui) e, enquanto nos esquecemos progressivamente da sua existência, as pessoas envolvidas vêem o seu sofrimento ser prolongado. As crianças, que nada contribuíram para a guerra que se instala nas suas casas, não têm infância e, segundo testemunhado por Rami Adham "preferem morrer a sofrer um golpe". Não têm esperança, não esperam por um futuro, viram os seus familiares e amigos desaparecer, sofrer ou morrer sem compreenderem o porquê. Como uma vez me disseram, estas crianças "não passam pelo tempo, o tempo passa por elas".
É uma triste realidade que tantas vezes nos esquecemos ou fazemos por esquecer. Sentimo-nos impotentes perante uma situação tão desastrosa, perigosa e distante. Afinal, o que podemos fazer?  
Este homem é tambem ele só um homem.
Porém a diferença reside no facto de não olhar para si e se subvalorizar e é isso que admiro tanto nele. Entende que apesar de serem só brinquedos, afetarão drasticamente as crianças que por momentos se podem alienar da sua tão triste realidade. E ele é, por isso, um herói à sua maneira.
Quando me perguntam quem é a pessoa que mais admiro, costumo responder os meus pais (e ainda penso isso). Mas não tenho outras referências individuais. Não penso na Malala, nem no Mandela, no Martin Luther King ou até em Einstein (que apesar de tudo, são inegavelmente grandes personalidades que contribuíram em muito para a humanidade). 
Para mim, os verdadeiros heróis são os anónimos. Os que não têm reconhecimento, prémios, patrocínios ou qualquer outro tipo de recompensas, a não ser gratidão ou o vislumbre de um sorriso, e ainda assim continuam, insistentemente, a lutar por aquilo em que acreditam e a fazer o que outros não arriscariam ou se dariam ao trabalho de fazer.
Os que sabem que muitos pequenos gestos fazem grandes diferenças e têm uma fé inabalável na humanidade e na bondade humana. Esses são os verdadeiros heróis. 
Porque eu começo a perder essa fé. Mas eles não.

Tudo isto soa um pouco a discurso do padre na missa sobre a caridade e sobre as virtudes humanas, eu compreendo, mas é honestamente a minha opinião. Que cada um faça algo de bom e de que se orgulhe, que se esforce e não sinta apatia para com o mundo e os outros. É assim que se faz com que a nossa existência tenha valido a pena. É assim que passamos de meros seres vivos a humanos. É assim que se faz deste mundo, um mundo (um pouco) melhor. 
Não desvalorizem o vosso impacto. 
Somos todos mais importantes do que julgamos. Todos podemos ser heróis (nem que seja só por um dia).


Para saberem mais sobre o conflito recomendo lerem este artigo, bastante claro e sucinto - http://www.bbc.com/portuguese/internacional-37472074


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