Desigual- Alicia Borrás

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"A marca de roupa Desigual optou por uma modelo de cabelos brancos para promover os seus ideais de diversidade e "beleza inclusiva". Alicia Borrás, de 70 anos, foi a escolhida para brilhar num vídeo da nova coleção Exotic Jeans, sobressaindo entre várias outras manequins e bailarinas mais novas.
Borrás foi Miss Espanha em 1965 e rosto de várias marcas e campanhas publicitárias. Quando tinha apenas 26 anos, retirou-se do mundo da moda para se dedicar a uma vida familiar."
 
Há verdades que são inevitáveis: vamos todos apaixonar-nos, desiludir-nos, quebrar promessas, cometer loucuras, ter segredos, realizar sonhos, morrer e, até lá chegarmos, vamos todos envelhecer.
Como há verdades que são mais assustadoras que outras, fala-se mais de umas e tenta-se esquecer o resto. E vamos admitir - a ideia de que um dia vamos estar sem forças, perder cabelo ou vê-lo mais claro, não nos reconhecermos ao espelho ou àqueles que nos são mais queridos é, efetivamente, uma realidade assustadora. 
Em todos os anúncios publicitários ou filmes só aparecem pessoas idosas quando se retratam reuniões familiares e pronto, ali está a avó simpática e dedicada à família e o avô cansado e carrancudo. Como se as pessoas mais velhas fossem SÓ isso. Parece que se estereotipa tudo nos dias de hoje e até como os mais velhos devem ser e se comportar.
A sociedade precisa de ser educada neste sentido, até porque estamos a caminho de uma população cada vez mais envelhecida: as pessoas mais velhas não param de viver quando chegam a uma certa idade. Não se deve discutir como se prolonga a vida humana se também não se procurar saber como é que se pode garantir a estas pessoas uma boa qualidade de vida. Uma vida que valha a pena ser vivida. E , claro, não admira que existam tantas depressões entre os idosos (e que ninguém fale disso!), que fiquem cansados, que desistam, que fiquem tristes, revoltados com a vida, com as pessoas, com o governo, com tudo.
As pessoas mais velhas têm direito a continuar a divertir-se, a fazer sexo, a dançar, a ter hobbies, a beber um copo de vinho ao fim do dia, a aperaltar-se, a pintar as unhas, a viajar, a aprender ou a trabalhar se isso as fizer feliz...a dizer "não" à passividade.
Eu não quero chegar aos meus 80 anos, ter filhos e netos saudáveis e pensar que já fiz tudo o que havia a fazer. Que agora só me resta sentar numa cadeira, ver televisão e esperar que aconteça. Quero aproveitar cada dia, porque a vida é - e esta é outra verdade inevitável - só uma. 
O que esta marca fez é revolucionário porquê? (não descurando que também é uma estratégia de marketing engenhosa) Porque reconhece estes indivíduos como seres com vida, com desejos e com a coragem de ainda ter expetativas. Seres corajosos que não querem saber o que os outros pensam e fazem aquilo que os faz feliz. Pessoas que dizem à sociedade "nós não somos a nossa idade".
Eu ainda hoje não tenho coragem de ser absolutamente eu e fazer aquilo que me apetece sem pensar no que os outros diriam de mim. Talvez demore uma vida. Talvez chegue àquela idade e pense "que se lixe, já vivi muito, já não me resta assim tanto, vou é ser feliz". Não quero demorar tanto tempo, mas quero vir a pensar assim.
E admiro este exemplo e tantos outros como os de pessoas que vão para a universidade aos 60, que tiram cursos, que escrevem poesia, que vão a arraiais e bailes, que viajam…
Esta é uma mensagem para todos nós.
Encarem estas pessoas como pessoas. Tenham conversas com significado com os vossos avós. Tenham em consideração os seus sentimentos e pensamentos.
E sobretudo, sejam felizes. Sejam vocês mesmos e não aquilo que esperam de vós. Vivam enquanto podem e por aqueles que não têm tanta sorte. E, independentemente da idade e circunstâncias de vida, não desistam e continuem a ter sonhos por realizar e outros tantos realizados.




 
 

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